MICOSES

A maior parte das infecções micóticas são superficiais e limitadas à pele. Uma espécie fúngica pode ocasionar manifestação clínica tão própria e característica que o quadro clínico por si só é suficiente para o diagnóstico etiológico. Em contrapartida, espécies diferentes podem resultar em quadros clínicos semelhantes. Os exames que confirmam o agente etiológico são os exames micológicos (direto e cultura). Para um diagnóstico laboratorial preciso há necessidade de uma adequação do material coletado, processado e finalmente interpretado.

Definição
Micoses superficiais são doenças provocadas por fungos, os quais estão limitados à epiderme, aos cabelos, às unhas e às mucosas.

Classificação
As micoses superficiais podem ser classificadas em:

Ceratofitoses
– pitiríase versicolor
– piedra preta
– tinha negra

Dermatofitoses
– tinha do couro cabeludo
– tinha do corpo
– tinha do pé
– tinha da unha

Candidíase mucocutânea
CERATOFITOSES
Pitiríase versicolor
Etiologia
Malassezia furfur (também denominada de Pityrosporum ovale e Pityrosporum orbiculare) é uma levedura que faz parte da biota normal da pele, principalmente do folículo piloso, sendo mais prevalente em climas tropicais e subtropicais. Ocorre em ambos os sexos, com mais freqüência em adolescentes e adultos jovens, provavelmente pelas alterações dos lipídeos da pele por ocasião da puberdade (maior atividade hormonal resulta em maior oleosidade).

Clínica
Caracteriza-se por máculas hipocrômicas, com contorno nítido e descamação fina. Esta última pode ser melhor observada pelo estiramento da lesão (sinal de Zilare), que remove a área de descamação e torna a lesão mais clara. As máculas localizam-se em face, pescoço e tronco, podendo coalescer e formar extensas áreas. Os cabelos e pêlos podem estar comprometidos sem apresentar lesões, necessitando de tratamento simultâneo.

Diagnóstico diferencial
Pitiríase alba, vitiligo, dermatite seborréica e hanseníase.

Piedra Preta
Etiologia
Piedraia hortae é um fungo assintomático com prevalência em indígenas da Amazônia e que afeta ambos os sexos, tendo como reservatório natural as florestas úmidas e água parada das margens dos rios.

Clínica
Caracteriza-se por nódulos enegrecidos envolvendo os fios de cabelo (mais visíveis quando molhados), de difícil retirada mecânica com o pente fino. Estes, durante o ato de pentear, provocam sensação de minúsculos “nós”, sendo semelhantes às lêndeas da pediculose, mas de tamanho menor.

Diagnóstico diferencial
Pediculose e alterações congênitas dos cabelos.

Tinha Negra
Etiologia
Phaeoannellomyces werneckii (anteriormente denominado Cladosporium werneckii e Exophiala werneckii), prevalente nas zonas temperada e tropical, atinge mais o sexo feminino, sendo encontrado em solo e vegetações de clima úmido. Localiza-se no estrato córneo da pele, resultando em lesão característica.

Clínica
Trata-se de lesão macular assintomática de coloração castanha escura ou preta, localizada nas palmas e/ou bordas dos dedos, com crescimento centrífugo e aspecto homogêneo em toda sua superfície.

Diagnóstico diferencial
Melanoma e nevos.

Dermatofitoses
Os dermatófitos estão divididos em três gêneros: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Eles digerem a queratina e invadem pele, cabelos e unhas, produzindo lesões variadas de acordo com o local atingido. Conforme seu habitat natural, podem ser divididos em três grupos: geofílicos, zoofílicos e antropofílicos. Estes últimos estão mais adaptados ao homem, resultando em pouca ou nenhuma reação, ao contrário daqueles que habitam animais e solo, com potencial para provocar uma reação inflamatória exuberante.

Serão expostas abaixo, de forma resumida, as dermatofitoses mais freqüentes na criança:
– tinha do couro cabeludo;
– tinha do corpo;
– tinha do pé e tinha da unha.

Tinha do couro cabeludo
Etiologia
Microsporum canis e Trichophyton tonsurans são os mais freqüentes.

Clínica
A lesão contém área de tonsura única (ou múltiplas), caracterizada por uma placa com cabelos picotados a cerca de um a três milímetros do couro cabeludo; este último pode estar preservado, com descamação ou com reação inflamatória.
O Kerion Celsi é a denominação da tinha com reação inflamatória aguda, apresentando placa geralmente única, com eritema, exsudato e/ou pústula.

Diagnóstico diferencial
Eczema seborréico, psoríase, alopecia areata, tricotilomania, foliculite e impetigo.

Tinha do corpo
Etiologia
O agente etiológico mais comum é o Microsporum canis; ocasionalmente podem ser encontrados o Microsporum audouinii ou o Trichophyton mentagrophytes. Quando forem isolados Trichophyton rubrum ou Epidermophyton floccosum, deve-se procurar contaminação intradomiciliar entre adultos.

Clínica
Caracteriza-se por lesão anular com crescimento centrífugo, cujo centro evolui para clareamento (“cura central”) e cuja borda contém pápulas eritematosas. Pode se apresentar também como uma lesão em placa, sem tendência ao aspecto de “cura central”.

Diagnóstico diferencial
Eczema atópico, eczema seborréico e pitiríase rósea.

Tinha do pé
Etiologia
Trichophyton rubrum e Trichophyton mentagrophytes são os agentes mais comuns, sendo freqüentes suas associações com leveduras e bactérias quando na região interdigital. A umidade constante (transpiração) e o calor (calçados permanentes) propiciam, junto à queratina, um ambiente favorável à recidiva ou à perpetuação da doença.

Clínica
Dentre as três formas de apresentação (interdigital, vesiculosa e descamativa), a interdigital é a mais comum na Pediatria; evolui com lesões descamativas, maceração, prurido e/ou fissura nos espaços interdigitais.

Diagnóstico diferencial
Eczema atópico e disidrose.

Tinha da unha
Etiologia
Epidermophyton é o agente mais comum, seguido por Trichophyton rubrum, Trichophyton mentagrophytes e Candida albicans.

Clínica
O acometimento da unha tem início, com freqüência, em sua borda distal, resultando em coloração opaca e detritos córneos sob a placa ungueal.
Na onicomicose pela Candida albicans, mais encontrada nas unhas da mão, há uma paroníquia associada (eritema e edema periungueais com distrofia ungueal).

Diagnóstico diferencial
Psoríase, trauma, eczemas, líquen plano e distrofias da unha.

Candidíase Mucocutânea
É a infecção aguda ou crônica da pele e mucosas provocada pela levedura Candida. Habita a pele, o intestino, as mucosas oral e vaginal de forma saprófita, tornando-se um patógeno quando há qualquer alteração do hospedeiro (umidade, maceração, alteração imunológica, gravidez, doenças malignas, uso de anticoncepcionais, antibióticos, corticóides e citostáticos, etc.).
Na criança, as localizações mais comuns são: mucosa oral, pregas de flexão e região da fralda.

Etiologia
A principal espécie patogênica do gênero Candida é a Candida albicans.

Clínica
Na mucosa oral caracteriza-se por placas esbranquiçadas, cremosas, circulares, confluentes ou não, que podem propagar-se por todo o trato gastrintestinal; nas pregas de flexão e região de fralda apresenta-se com lesões eritematosas, úmidas, brilhosas e com lesões satélites arredondadas na periferia.

Diagnóstico diferencial
Psoríase e dermatite amoniacal.